Retomada

O “Diário do meu Fogão” esteve sem atualização desde julho de 2010. A razão? A pior de todas: Andiara, a nossa guru, foi bater papo com os anjos, foi melhorar o cardápio do Paraíso. Durante a internação, seu filho mandou o seu prato preferido o concurso “Sua Receita” do Portal Oba. A Andiara jamais ficou sabendo, mas o seu Klops Familiar foi uma das 50 selecionadas e publicadas em um elegante livro. Mas a surpresa não acaba ai. A renda da venda do livro irá para o Hospital Boldrini de câncer infantil. Para nós a mensagem não poderia ser mais clara: O Fogão não apagou, o Diário deve continuar. Temos certeza de que a Andiara, lá em cima, irá gostar.


"Não existe maior prazer do que os prazeres da mesa" - George Bernard Shaw


sexta-feira, 14 de maio de 2010

Língua Assada de panela

Há mais de 2 mil anos um dia um rico mercador grego ordenou ao seu escravo:
– Esopo, vai ao mercado e compra a melhor comida do mundo.
O fabulista voltou com um prato coberto com um fino pano de linho que o mercador levantou e se surprendeu:
– Ah, uma língua! Mas, por que a língua?
– O que há de melhor que a língua? – respondeu Esopo – A língua nos une pela fala e faz com que nos entendamos. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua se constroem cidades, graças à língua dizemos o nosso carinho, ternura, compreensão. É a língua que torna eterno os versos dos poetas e as idéias dos escritores. Com a língua se ensina, se instrui, se persuade, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua dizemos “mãe”, “querida”, “Deus”, “sim”, “eu te amo”. O que pode haver melhor do que a língua, senhor?
O mercador levantou-se entusiasmado:
– Esopo, realmente me trouxeste o que há de melhor. Agora volta ao mercado e me traz o que houver de pior, pois quero ver a tua sabedoria.
Mais uma vez Esopo foi e voltou do mercado, trazendo desta vez uma... língua!
O mercador descobriu o prato e ficou indignado:
–O que!? Língua? Língua outra vez? Não dissestes que a língua era o que havia de melhor?
Esopo encarou o mercador e respondeu:
–A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade, que divide os povos. Com a língua os vigaristas trapaceiam. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos, das guerras, da exploração. A língua mente, esconde, engana, explora, blasfema, insulta, se acovarda, mendiga, xinga, bajula, destrói, calunia, vende, seduz, corrompe. Com a língua dizemos “morre”, “canalha”, “demônio”, “não”. Senhor, a língua é a pior e a melhor de todas as de todas as coisas.
(transcrição para prosa por Pedro Bandeira, de diálogo da peça "A Raposa e as Uvas" de Guilherme de Figueiredo).

Ingredientes:
1 língua limpa
1 cenoura
1 cebola
1 maço de salsinha
Sal a gosto
Tempero:
4 dentes de alho amassados
½ cebola picadinha
8 folhas de manjericão picadinho
10 folhas de alecrim picadinhas
5 folhas de sálvia picadinhas
1 folha seca de louro
1 colher de sopa de óleo
1 colherinha de açúcar
Sal e pimenta a gosto
Preparo:
1. Temperar a língua, fazendo nela pequenos cortes para melhor absorção do tempero. Guardá-la em geladeira de um dia para o outro. 2. Por 15 minutos cozinhá-la na panela de pressão. 3. na própria panela de pressão frite-a dos 2 lados e vá colocando água quente a medida que for secando. 4. quando estiver bem macia tirar do fogo e, já na travessa em que será servida, fatiá-la. Acompanhada de um creme de batata doce ou de mandioquinha, ou ainda de mandioca frita, vai ficar no paladar de Esopo. 
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“A história se esquece entre uma fome e outra”. – pinçado do livro “Der Butt” de Günther Grass.
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